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sábado, 21 de março de 2015

PRIMAVERAR

A Primavera também chama por nós.
Aqui fica um texto muito inspirador.
Maria Conceição Moita

Primaverar

Esquecemo-nos de que as estações se conjugam como um verbo e que, por isso, a primavera não é apenas um fenómeno exterior, um substantivo que descreve anualmente a natureza à nossa volta, mas é uma realidade que posso dizer de mim: «eu primavero», «eu (re) começo a primaverar». 

Por um lado, a primavera faz de nós testemunhas da revitalização do mundo. Desde o fio de erva à vegetação mais grandiosa, tudo passa por um incrível processo de rejuvenescimento. A vida parece uma rebentação, um contágio imparável, um sobressalto. O seu espetáculo desassombrado enche-nos os olhos. Por outro lado, porém, esse ver não basta Não somos testemunhas, mas protagonistas. A par das árvores com que nos cruzamos rua fora ou das flores bravias que pontilham qualquer nesga de chão, somos chamados a primaverar. 



Uma das formas de conjugar a primavera é a descoberta que cada um de nós vai fazendo, a tempo e fora do tempo, da aliança entre a existência e o inacabado. Quando, de repente, tínhamos tudo para nos pensarmos completos, gastos ou acabados, descobrimos que a vida é o aberto. A verdadeira sabedoria, aquela que nos faz tocar o coração da vida, é a sabedoria do inicial, do verde tenro, do primaveril, do incessante. (…) O nosso juízo de arrumação e remate (e as idealizações que projetamos a esse respeito) é enganador, mais não seja porque a vida é viva, florescente, é uma sucessão infinda de começos. (…) Primaverar é persistir numa atitude de hospitalidade em relação à vida. Ao lado do previsto, irrompe o imprevisível que precisamos aprender a acolher. 


Misturado com aquilo que escolhemos, chega-nos o que não escolhemos e que temos, na mesma, de viver, transformando-o em oportunidade e desafio para a confiança. A primavera não tem uma linha demarcada: transborda sempre e temos de preparar-nos para isso. Ela não fica a alegrar apenas os canteiros muito bem ordenados. A sua floração inédita dá-nos o endereço da torrente, para lá da vida que pensamos domesticada pelos nossos cálculos. 

(…) Quando vamos de um lado para o outro estamos, normalmente, presos aos motivos que justificam a deslocação. Mas - temos de reconhecê-lo - uma viagem assim é demasiado curta. E não é isso primaverar. Há uma outra viagem que só começa quando as perguntas sobre o que fazemos ali deixam de interessar. Estamos, por final. Viemos. Não é o saber ou a utilidade que a definem, mas o próprio ser, a expressão profunda de si. A sabedoria dos que primaveram não consiste, assim, num conhecimento prévio, mas em alguma coisa que se descobre na habitação do próprio caminho.

José Tolentino Mendonça


terça-feira, 17 de março de 2015

A ÁRVORE DOS DESEJOS

Domingo, 22 de Março de 2015, às 10h00
Jardim da Parada



Inspirado numa velha tradição oriental, o CampOvivo recebe esta Primavera com uma Árvore dos Desejos, simbolicamente recriada no coreto do Jardim da Parada, em Campo de Ourique.

Assim, convidamos todos os vizinhos e visitantes a expressarem seus desejos mais diversos.

A jornada começará pelas 10 da manhã do próximo domingo, hora a que alegremente daremos início à festa da Saudação da Primavera, e prolongar-se-á até ao cair da tarde.

Por essa hora, talvez alguns desses desejos dêem um belo poema, enquanto outros, quem sabe, sejam atendidos pelo espírito generoso das árvores do nosso jardim, ou, quiçá, por outras instâncias mais deste mundo...

«O que move o indivíduo é o desejo»
Jacques Lacan

«O homem é uma criação do desejo, não uma criação da necessidade»
Gastón Bachelard - filósofo e poeta francês. (Bar-sur-Aube, 27 de junho de 1884 — Paris, 16 de Outubro de 1962)


A ÁRVORE DOS DESEJOS
SEGUNDO A PARÁBOLA INDIANA


Um dia, um viajante entrou sem querer no Paraíso. Segundo a tradição hindu, o Paraíso está cheio de Árvores do Desejo. Basta uma pessoa sentar-se à sombra de uma delas, para que qualquer desejo que se formule seja imediatamente satisfeito.O viajante não sabia de nada disto, nem sequer sabia onde estava. Só sabia que estava muito cansado, por isso, sentou-se sob a copa de uma bela árvore e deixou-se adormecer. Quando acordou estava cheio de fome e deu consigo dizendo em voz alta: “quem me dera conseguir alguma comida de algum lugar…” Foi quanto bastou para, aparecendo do nada, surgir perante ele um magnífico repasto. Com a fome que tinha nem questionou o estranho prodígio e comeu, deliciado, de tudo quanto tinha à sua frente. Já satisfeito, outro pensamento o assaltou. Qualquer coisa para beber… E de novo e de imediato lhe apareceu um excelente vinho, que bebeu descontraidamente, sob a copa fresca dessa árvore do Paraíso. Já bem comido e bem bebido, deu então consigo a reflectir no que acabara de acontecer. Que é isto? O que está acontecendo? Será que sonho, ou existem espíritos por aqui, brincando comigo? Uma vez mais, este pensamento foi quanto bastou para que os espíritos aparecessem. E tinham um ar feroz e horrível. Nessa altura, o homem começou a tremer de medo e um pensamento assustador atravessou a sua mente: ai que me matam!

E os espíritos mataram-no.

E diz-nos esta parábola que a verdadeira Árvore dos Desejos cresce em cada um de nós. Para o bem e para o mal. Somos nós quem cria o seu próprio Inferno, ou Paraíso. E que tudo o que desejarmos se pode tornar realidade.

domingo, 8 de março de 2015

8 DE MARÇO


HOJE, 8 DE MARÇO, PENSAMOS EM TODAS AS MULHERES, SOBRETUDO NAQUELAS QUE PASSAM ANÓNIMAS E SEM ROSTO CONHECIDO NAS ESTRADAS DA HISTÓRIA.


Nota: fotografia e texto cedido por Maria Conceição Moita do campOvivo