A propósito do filme do dia 23 /2 "Cine Paraíso", o CINE PADARIA achou interessante publicar um capítulo de um trabalho sobre este filme intitulado - Cinema e TV - realizado por António Jorge Serra e José Carlos Boto, da Faculdade de Ciências Departamento de Educação.
www.educ.fc.ul.pt
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o Cinema Paraíso
CINEMA E T.V.
A memória do Cinema Paraíso abrange de modo óbvio o passado glorioso do
cinema muitas vezes designado por cinema clássico. Cinema que se reporta à
grande produção industrial da primeira metade deste século associado aos
estúdios de Hollywood e, em particular, da Cinecitá Italiana.
De facto, o tema do cinema como um "paraíso" distante e irrepetível
atravessa como um fantasma o cinema italiano dos anos oitenta (basta recordar
o exemplo esclarecedor de Ginger e Fred de Federico Fellini de1986). E não é
por acaso que isso acontece no contexto europeu. É que, ao longo dos anos
oitenta, a indústria cinematográfica italiana foi uma das mais penalizadas pelo
"boom" das televisões e pela simultânea desertificação das salas de cinema. É
esta a explicação adiantada no filme para a demolição da sala do velho "Novo
Cinema Paraíso": a sua decadência face à T.V..
Se é um facto que a T.V. permite uma veículação de informação muito rápida
e acessível ao grande público, também é verdade que ela abre a possibilidade
da falta de controlo da qualidade de informação. Enquanto que o filme é uma
obra assinada, acabada, uma totalidade significante, a T.V. oferece produtos
anónimos e fragmentários. A responsabilidade é diluída pelos diferentes agentes
que estão implicados numa emissão televisiva. As consequências são visíveis e
devastadoras. Ninguém que hoje se importe com as questões da educação pode
deixar de estar atento a este veículo poderosíssimo de transmissão de
informação e valores que é a televisão (o pequeno ecrã). A cena de Alfredo
projectando ao ar livre pode, neste contexto, ilustrar um grito de alerta. Como se,
a partir desse gesto inaugural, o ecrã não tivesse nunca mais sido encolhido
mas, ao contrário, tivesse crescido sempre. Até ficar do tamanho das estrelas
que nele eram projectadas e até que já nenhum personagem pudesse ser
responsabilizado (e punido, como Alfredeo foi) pelo sentido desse gesto
Paradoxalmente ou não, talvez por essa razão se possa explicar que o filme
Cinema Paraíso tenha acabado por se tornar num dos títulos da produção
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