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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

QUEM SOMOS

Este foi o texto da apresentação do  campOvivo à população, no dia 19 de Novembro de 2013, no salão da Junta de Freguesia de Campo de Ourique.


Alguns de nós tiveram a intuição de que fazia sentido inaugurar um movimento, em 2013, neste nosso bairro. Chamamos-lhe campOvivo.
Somos um grupo de cidadãos. Damos agora a cara e o contacto. Não temos, enquanto grupo, qualquer ligação institucional e estamos abertos a todas as pessoas do bairro que queiram colaborar na linha dos nossos pressupostos.

Campo de Ourique vivo. Porque julgamos que lhe falta um acréscimo de vida. Sabemos da tradição deste território onde sempre houve iniciativas de cidadãos que lhe acrescentaram mais cultura e mais atenção aos vizinhos. Gostaríamos de nos inscrever, muito simplesmente, nessa história, tendo consciência dos nossos poucos recursos e das dificuldades com que estamos todos confrontados. O tempo é de desânimo e o ambiente favorece a depressão colectiva. Mas há muitos modos de enfrentar crises: um deles é resistir positivamente, lutando contra o que gera a desumanização e a injustiça. Urge ficarmos de pé, uns com os outros, e construirmos elos fortes entre nós, para que ninguém se sinta sozinho ou excluído, dentro de uma rede de vizinhos.

Falamos de movimento, porque este conceito nos é muito caro.
Acreditamos que o movimento pode alterar a realidade e sobretudo pode transformar aqueles que se movem. E isto se soubermos o que queremos, na intensa atenção, tanto ao contexto mais próximo, como ao mais distante. Mas obviamente que pretendemos que este projecto tenha impacto no bairro, junto dos nossos vizinhos e sobretudo junto daqueles que estão em situações de maior fragilidade.
“Nas situações fechadas, há sempre movimentos possíveis”. Não somos neutros perante a situação em que o país foi mergulhado. Há que activar as forças que temos e contribuir para a mudança.

A intenção do campOvivo é de promover a interajuda o cuidado recíproco. Não queremos situarmo-nos de modo paternalista perante outros, mas potenciar a reciprocidade, tanto quanto a criatividade estiver por perto. É que não há outra maneira de viver – somos uns com os outros.

A intenção é de dar corpo a diversas iniciativas de carácter cultural e social, fomentar as relações entre vizinhos, a responsabilidade partilhada, o sentido de pertença a uma comunidade e fortalecer a participação cidadã na resolução de problemas identificados e sentidos por todos. Isto exigirá uma escuta permanente do sentir das pessoas de Campo de Ourique e da procura activa de um aumento de participação da população naquilo que viermos a fazer.
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A cultura, para nós, é um tema central. Há-de ser prazer de pensar e de fruir o diferente, reflectir sobre o que é novo para nós, ir mais fundo na notícia ligeira. Há-de ser contactar com a arte e as letras, a música e o teatro, o cinema e o jornal. E com tudo o que nos torne mais reflexivos e mais humanos. Tudo o que nos torne capazes de falar com mais rigor e de agir com mais informação.
No âmbito da cultura, valorizamos a troca de saberes entre diferentes culturas, ou seja, parece-nos muito interessante neste bairro tão heterogéneo e cheio de gente com experiências tão diferentes, cruzar o saber de quem sabe fazer – que tenha uma arte, um ofício, um saber fazer concreto e mais esquecido ou mais original, com outras formas de cultura no campo das letras, das artes, da ciência e das várias disciplinas.

A intervenção social surge por causa da responsabilidade que nos liga aos outros. Surge como forma do cuidado afectivo. Surge do facto de não nos ser suportável, perante o sofrimento, não poder abrir a porta e sair à rua. Surge da cumplicidade no meio da insegurança, da incerteza e da necessidade de acompanhar alguns que não têm caminho à vista.
Não temos dinheiro para distribuir. E não nos queremos substituir às estruturas do Estado e às acções que lhe são inerentes, ou às iniciativas institucionais que existem no bairro. Mas ter um papel complementar na prestação de apoios. Como ferramenta, temos uma atitude de solicitude, a vontade de acompanhar e, se for caso disso, o cuidado de encaminhar para instituições competentes, quer no bairro quer na cidade. Para este efeito, vamos elaborar um ficheiro de contactos.

A iniciativa cidadã será outra vertente da nossa tarefa. Não que seja nova, esta realidade em Campo de Ourique. Veja-se, por exemplo, uma das mais recentes e exemplares: um grupo de cidadãos reuniu-se em torno de uma causa: salvar um espaço que estava prestes a ser um conjunto de habitações de luxo – o ex-cinema Europa, para preservar um local de iniciativas de carácter cultural. Depois de diversos contactos com a Junta e a CML, conseguiram até que o projecto fosse votado no âmbito do Orçamento Participativo. E eis que está quase a abrir todo um rés-do-chão no centro do bairro, destinado a biblioteca/mediateca, a acções de animação e a um anfiteatro multifuncional. Aqui está um exemplo de que vale a pena o persistente empenho de um grupo de cidadãos.

As iniciativas que serão privilegiadas pelo campOvivo, no âmbito da cidadania activa, levar-nos-ão a tomar consciência do poder que temos de transformar, de preservar e de alimentar tudo o que é importante para o nosso bem-estar e para o bem comum. Há direitos que vão sendo desvalorizados e não respeitados nesta democracia e que urge resgatar. Há deveres dos cidadãos que faz sentido proclamar, para reforçar a nossa profunda interdependência e a responsabilidade que lhe está ligada.
A tarefa que nos propomos será levada à prática por todos os que se quiserem juntar, para tornar mais vivo este Campo, em regime de puro voluntariado. Quem quiser que venha e que traga mais cinco.

Mas há que afirmar que ser voluntário não é puro entretenimento ou forma de ocupar o tempo. Exige preparação para a tarefa, exige trabalho de equipa. Mas sobretudo uma alegria.
Mas o campOvivo só perspetiva o seu trabalho se for realizado em rede. Sabemos que estão aqui presentes representantes de instituições que já se manifestaram no sentido de colaborarmos em conjunto. Outros virão.
Estão aqui pessoas que são chave para o nosso trabalho. Contamos convosco. A tarefa é de todos. Funcionar em rede supõe que nada nem ninguém se situe no centro, mas que existam polos funcionais em ligação. Aceitar as competências uns dos outros, torná-las indispensáveis e ser protagonistas na complementaridade – é isto que queremos.


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