Este foi o texto da apresentação do campOvivo à população, no dia 19 de Novembro de 2013, no salão da Junta de Freguesia de Campo de Ourique.
Alguns de nós tiveram a intuição de que fazia sentido
inaugurar um movimento, em 2013, neste nosso bairro. Chamamos-lhe campOvivo.
Somos um grupo de cidadãos. Damos agora a cara e o contacto.
Não temos, enquanto grupo, qualquer ligação institucional e estamos abertos a
todas as pessoas do bairro que queiram colaborar na linha dos nossos pressupostos.
Campo de Ourique vivo. Porque julgamos que lhe falta um acréscimo de vida.
Sabemos da tradição deste território onde sempre houve iniciativas de cidadãos
que lhe acrescentaram mais cultura e mais atenção aos vizinhos. Gostaríamos de
nos inscrever, muito simplesmente, nessa história, tendo consciência dos nossos
poucos recursos e das dificuldades com que estamos todos confrontados. O tempo
é de desânimo e o ambiente favorece a depressão colectiva. Mas há muitos modos
de enfrentar crises: um deles é resistir positivamente, lutando contra o que
gera a desumanização e a injustiça. Urge ficarmos de pé, uns com os outros, e
construirmos elos fortes entre nós, para que ninguém se sinta sozinho ou
excluído, dentro de uma rede de vizinhos.
Falamos de movimento, porque este conceito nos é muito caro.
Acreditamos que o movimento pode alterar a realidade e sobretudo pode transformar aqueles que se movem. E isto se soubermos o que queremos, na intensa atenção, tanto ao contexto mais próximo, como ao mais distante. Mas obviamente que pretendemos que este projecto tenha impacto no bairro, junto dos nossos vizinhos e sobretudo junto daqueles que estão em situações de maior fragilidade.
Acreditamos que o movimento pode alterar a realidade e sobretudo pode transformar aqueles que se movem. E isto se soubermos o que queremos, na intensa atenção, tanto ao contexto mais próximo, como ao mais distante. Mas obviamente que pretendemos que este projecto tenha impacto no bairro, junto dos nossos vizinhos e sobretudo junto daqueles que estão em situações de maior fragilidade.
“Nas situações fechadas, há sempre movimentos possíveis”. Não
somos neutros perante a situação em que o país foi mergulhado. Há que activar
as forças que temos e contribuir para a mudança.
A intenção do campOvivo
é de promover a interajuda o cuidado recíproco. Não queremos situarmo-nos de
modo paternalista perante outros, mas potenciar a reciprocidade, tanto quanto a
criatividade estiver por perto. É que não há outra maneira de viver – somos uns
com os outros.
A intenção é de dar corpo a diversas iniciativas de carácter
cultural e social, fomentar as relações entre vizinhos, a responsabilidade
partilhada, o sentido de pertença a uma comunidade e fortalecer a participação
cidadã na resolução de problemas identificados e sentidos por todos. Isto exigirá
uma escuta permanente do sentir das pessoas de Campo de Ourique e da procura activa de um aumento de participação da população naquilo que viermos a fazer.
.
A cultura, para
nós, é um tema central. Há-de ser prazer de pensar e de fruir o diferente,
reflectir sobre o que é novo para nós, ir mais fundo na notícia ligeira. Há-de
ser contactar com a arte e as letras, a música e o teatro, o cinema e o jornal.
E com tudo o que nos torne mais reflexivos e mais humanos. Tudo o que nos torne
capazes de falar com mais rigor e de agir com mais informação.
No âmbito da cultura, valorizamos a troca de saberes entre
diferentes culturas, ou seja, parece-nos muito interessante neste bairro tão
heterogéneo e cheio de gente com experiências tão diferentes, cruzar o saber de
quem sabe fazer – que tenha uma
arte, um ofício, um saber fazer concreto e mais esquecido ou mais original, com
outras formas de cultura no campo das letras, das artes, da ciência e das
várias disciplinas.
A intervenção social surge por causa da
responsabilidade que nos liga aos outros. Surge como forma do cuidado afectivo.
Surge do facto de não nos ser suportável, perante o sofrimento, não poder abrir
a porta e sair à rua. Surge da cumplicidade no meio da insegurança, da
incerteza e da necessidade de acompanhar alguns que não têm caminho à vista.
Não temos dinheiro para distribuir. E não nos queremos
substituir às estruturas do Estado e às acções que lhe são inerentes, ou às
iniciativas institucionais que existem no bairro. Mas ter um papel complementar
na prestação de apoios. Como ferramenta, temos uma atitude de solicitude, a
vontade de acompanhar e, se for caso disso, o cuidado de encaminhar para
instituições competentes, quer no bairro quer na cidade. Para este efeito,
vamos elaborar um ficheiro de contactos.
A iniciativa cidadã
será outra vertente da nossa tarefa. Não que seja nova, esta realidade em Campo
de Ourique. Veja-se, por exemplo, uma das mais recentes e exemplares: um grupo
de cidadãos reuniu-se em torno de uma causa: salvar um espaço que estava
prestes a ser um conjunto de habitações de luxo – o ex-cinema Europa, para
preservar um local de iniciativas de carácter cultural. Depois de diversos
contactos com a Junta e a CML, conseguiram até que o projecto fosse votado no
âmbito do Orçamento Participativo. E eis que está quase a abrir todo um
rés-do-chão no centro do bairro, destinado a biblioteca/mediateca, a acções de
animação e a um anfiteatro multifuncional. Aqui está um exemplo de que vale a
pena o persistente empenho de um grupo de cidadãos.
As iniciativas que serão privilegiadas pelo campOvivo, no âmbito da cidadania
activa, levar-nos-ão a tomar consciência do poder que temos de transformar, de
preservar e de alimentar tudo o que é importante para o nosso bem-estar e para
o bem comum. Há direitos que vão sendo desvalorizados e não respeitados nesta
democracia e que urge resgatar. Há deveres dos cidadãos que faz sentido
proclamar, para reforçar a nossa profunda interdependência e a responsabilidade
que lhe está ligada.
A tarefa que nos propomos será levada à prática por todos os
que se quiserem juntar, para tornar mais vivo este Campo, em regime de puro voluntariado. Quem quiser que
venha e que traga mais cinco.
Mas há que afirmar que ser voluntário não é puro
entretenimento ou forma de ocupar o tempo. Exige preparação para a tarefa,
exige trabalho de equipa. Mas sobretudo uma alegria.
Mas o campOvivo só perspetiva o seu trabalho se for realizado
em rede. Sabemos que estão aqui
presentes representantes de instituições que já se manifestaram no sentido de
colaborarmos em conjunto. Outros virão.
Estão aqui pessoas que são chave para o nosso trabalho.
Contamos convosco. A tarefa é de todos. Funcionar em rede supõe que nada nem
ninguém se situe no centro, mas que existam polos
funcionais em ligação. Aceitar as competências uns dos outros, torná-las
indispensáveis e ser protagonistas na complementaridade – é isto que queremos.
Sem comentários:
Enviar um comentário