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quarta-feira, 25 de junho de 2014

Quem somos?


Este  foi o texto da primeira intervenção do Movimento campOvivo na sua apresentação à populaçao e às instituições:

" Somos um grupo de cidadãos.  Não temos, enquanto grupo, qualquer ligação institucional e estamos abertos a todas as pessoas do bairro que queiram colaborar na linha dos nossos pressupostos.

Campo de Ourique vivo. Porque julgamos que lhe falta um acréscimo de vida. Sabemos da tradição deste território onde sempre houve iniciativas de cidadãos que lhe acrescentaram mais cultura e mais atenção aos vizinhos.

 Gostaríamos de nos inscrever, muito simplesmente, nessa história, tendo consciência dos nossos poucos recursos e das dificuldades com que estamos todos confrontados. O tempo é de desânimo e o ambiente favorece a depressão colectiva. Mas há muitos modos de enfrentar crises: um deles é resistir positivamente, lutando contra o que gera a desumanização e a injustiça.

 Urge ficarmos de pé, uns com os outros, e construirmos elos fortes entre nós, para que ninguém se sinta sozinho ou excluído, dentro de uma rede de vizinhos.

A intenção do campOvivo é de promover a interajuda e o cuidado recíproco. Não queremos situarmo-nos de modo paternalista perante outros, mas potenciar a reciprocidade, tanto quanto a criatividade estiver por perto. É que não há outra maneira de viver – somos uns com os outros.

A intenção é de dar corpo a diversas iniciativas de carácter cultural e social, fomentar as relações entre vizinhos, a responsabilidade partilhada, o sentido de pertença a uma comunidade e fortalecer a participação cidadã na resolução de problemas identificados e sentidos por todos. Isto exigirá uma escuta permanente do sentir das pessoas de Campo de Ourique e a participação dos mesmos em tudo o que fizermos.

cultura, para nós, é um tema central. Há-de ser prazer de pensar e de fruir o diferente, reflectir sobre o que é novo para nós, ir mais fundo na notícia ligeira. Há-de ser contactar com a arte e as letras, a música e o teatro, o cinema e o jornal. E com tudo o que nos torne mais reflexivos e mais humanos. Tudo o que nos torne capazes de falar com mais  rigor e de agir com mais informação.

No âmbito da cultura, valorizamos a troca de saberes entre diferentes culturas, ou seja, parece-nos muito interessante neste bairro tão heterogéneo e cheio de gente com experiências tão diferentes, cruzar o saber de quem sabe fazer – que tenha uma arte, um ofício, um saber fazer concreto e mais esquecido ou mais original, com outras formas de cultura no campo das letras, das artes, da ciência e das várias disciplinas.

intervenção social surge por causa da responsabilidade que nos liga aos outros. Surge como forma do cuidado afectivo. Surge do facto de não nos ser suportável, perante o sofrimento, não poder abrir a porta e sair à rua. Surge da cumplicidade no meio da insegurança, da incerteza e da necessidade de acompanhar alguns que não têm caminho à vista.

Não temos dinheiro para distribuir. E não nos queremos substituir às estruturas do Estado e às acções que lhe são inerentes, ou às iniciativas institucionais que existem no bairro. Mas ter um papel complementar na prestação de apoios. Como ferramenta, temos uma atitude de solicitude, a vontade de acompanhar e, se for caso disso, o cuidado de encaminhar para instituições competentes, quer no bairro quer na cidade. Para este efeito, vamos elaborar um ficheiro de contactos.

iniciativa cidadã será outra vertente da nossa tarefa. Não que seja nova, esta realidade em Campo de Ourique. Veja-se, por exemplo, uma das mais recentes e exemplares: um grupo de cidadãos reuniu-se em torno de uma causa: salvar um espaço que estava prestes a ser um conjunto de habitações de luxo – o ex-cinema Europa, para preservar um local de iniciativas de carácter cultural. Depois de diversos contactos com a Junta e a CML, conseguiram até que o projecto fosse votado no âmbito do Orçamento Participativo. E eis que está quase a abrir todo um rés-do-chão no centro do bairro, destinado a biblioteca/mediateca, a acções de animação e a um anfiteatro multifuncional. Aqui está um exemplo de que vale a pena o persistente empenho de um grupo de cidadãos.

As iniciativas que serão privilegiadas pelo campOvivo, no âmbito da cidadania activa, levar-nos-ão a tomar consciência do poder que temos de transformar, de preservar e de alimentar tudo o que é importante para o nosso bem-estar e para o bem comum. Há direitos que vão sendo desvalorizados e não respeitados nesta democracia e que urge resgatar. Há deveres dos cidadãos que faz sentido proclamar, para reforçar a nossa profunda interdependência e a responsabilidade que lhe está ligada.
A tarefa que nos propomos será levada à prática por todos os que se quiserem juntar, para tornar mais vivo este Campo, em regime de puro voluntariado. Quem quiser que venha e que traga mais cinco.

Mas há que afirmar que ser voluntário não é puro entretenimento ou forma de ocupar o tempo. Exige preparação para a tarefa, exige trabalho de equipa. Mas sobretudo uma alegria.
Mas o campOvivo só perspetiva o seu trabalho se for realizado em rede. Sabemos que estão aqui presentes representantes de instituições que já se manifestaram no sentido de colaborarmos em conjunto. Outros virão.

Estão aqui pessoas que são chave para o nosso trabalho. Contamos convosco. A tarefa é de todos. Funcionar em rede supõe que nada nem ninguém se situe no centro, mas que existam polos funcionais em ligação. Aceitar as competências uns dos outros, torná-las indispensáveis e ser protagonistas na complementaridade – é isto que queremos.

Maria Conçeição Moita
Rosário Horta
Rui Remígeo
Maria José Afonso 
Pedro Barreiros
Alexandra 









2 comentários:

  1. Quem somos?
    Parabéns pelo Blogue e pela disponibilidade manifestada.
    Parabéns pelas propostas apresentadas.
    Parabéns pelas iniciativas já tomadas.
    Gostaríamos de deixar ou acrescentar algo, que não foi directamente manifestado.
    Se desde Junho passado não foram deixadas mensagens por esta via, algumas interrogações são pertinentes, se nos quisermos interrogar e caracterizar sobre quem são os moradores de Campo de Ourique, ou onde começa e acaba Campo de Ourique, quais as suas fronteiras e os seus extractos sociais.
    Muitos Blogues já existem em Lisboa, mas CampOvivo terá de ser dinâmico e com participação construtiva.
    Não deve ser politicamente correcto, nem ter receios de afrontar os poderes, sejam eles quais forem. Desde Autarquia a Assembleia da República quer-se uma crítica construtiva mas assumida.
    Será difícil, mas a Democracia nem a todos contenta, sendo evidente o que se tem passado neste 40 anos desde Abril.
    Para fazer jus à lápida da Rua de Campo de Ourique do 4.OUT.1910 não pode haver posições politicamente correctas, e a assunção das críticas deve ser feita aos governantes da polis.
    Não deve o Blogue ser uma tribuna política e alimentar politiquices, mas como sabem a desconfiança e a desilusão é muita, o que faz com que a cidadania não seja participada como deveria.
    Se já demos os Parabéns pelo aparecimento, não devem perder de vista os antecedentes da luta pelo Cinema Europa e das divisões causadas, talvez porque nunca se quis assumir a confrontação e a exigência democrática necessária.
    Porque se "temos" o rés-de-chão, nunca se deve esquecer que João Soares não quis "negociar" o edifício todo e o politicamente correcto tem ganho. Só que chegámos a esta crise de valores e não só, porque o assumir a confrontação democrática e pacífica dá mais trabalho e gera estúpidas inimizades.
    A República não se implantou com o politicamente correcto.
    Não se quer mais um Blogue, quer-se um CampOvivo.
    Parabéns.

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    1. Muito bem.
      Esperemos que os administradores do Blogue e os intervenientes tenham essa construção.
      Frontalidade, correcção, mas crítica sem receios, precisa-se.
      Chega de Censura encapotada.

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